sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Discoteca aberta

Recentemente houve uma explosão de jovens cantoras ;muitas delas centradas no samba carioca, por volta de três anos atrás foi lançado o disco de estréia da pernambucana Alessandra Leão, Brinquedo de Tambor.

Diferentemente de muitos albuns com suavidade ou as sonoridades mais hype's, o CD da ex-integrante do Comadre Fulozinha revelava uma otima compositora. Cito aqui minúsculos trechos do redator do DNA Arthur de Faria pois não haveria melhor argumento perante a influência e obra da Alessandra Leão.
" ...o paralelo mais imediato para situar as referências seria o amigo Siba e sua Fuloresta do Samba, que também escondem por trás de sonoridades ancestrais uma radical atualidade. Mas o disco de estréia, ainda que farto em contrapontos e usando algumas guitarras, ainda era um tanto reverente às tradições de que se apropriava. Pois neste novo CD - Dois Cordões, a coisa amadureceu como se décadas, e não anos, houvessem passado.
Nele, a idéia de arranjo e sonoridade (obra do produtor/arranjador/instrumentista Caçapa) é inseparável do resultado final: uma combinação 100% inédita dos timbres de três guitarras elétricas (de 6, 7 e 12 cordas), em camas quase nunca harmônicas, mas sim complexamente polifônicas. Tecidos sonoros que devem tributo tanto aos estudos eruditos europeus de contraponto e fuga quanto a escuta atenta dos mestres da música africana, igualmente polifônica e não-harmônica.
E essa meticulosa rede de vozes instrumentais é alicerçada à terra não por acaso por um místico (e mítico) trio de ilús: tambores de pela utilizados nos terreiros de Xangô (como é conhecido o candomblé em Pernambuco). E a moldura do disco é essa. Pouco mais, pra dar molho: um pandeiro aqui, caxixis ali, talking drums, güiro, ganzá, eventuais coros.
Só que nada disso seria mais do que curioso ineditismo se, sobre essa tessitura, não flutuasse como ave rara a voz de Alessandra. Uma voz por vezes doce e jovial, por vezes crestada numa alegria ancestral que ecoa essa gente simples dos interiores de Norte e Nordeste, gente que canta porque não sabe não cantar. Essa gente humilde e feliz, feliz de uma felicidade muitas vezes incompreensível para urbanos e/ou sulistas.
Mas do que fala essa voz? Sobre o que escreve essa compositora única, que abre as asas sobre o chão de terra e paira sobre o mundo, sobre sentimentos universais, sobre dramas de qualquer cidadão do planeta? Fala de (ser) par, de dualidade, de chegadas e de partidas. Fala de Ogum e de Iemanjá. De amor e violência, fogo e mar, tradição e contemporaneidade. África e América, elétrico e acústico. Tensão e festa. Fala de gente.E é essa, acima de tudo a força desses Dois Cordões. É um disco de gente. Gente falando de gente".


Experimente

Um comentário:

  1. Pra mim, música deve ser original em relaões a combinações e ousadia. Tipo, tem que ser aquela música que você escuta e sabe "É de tal pessoal essa música!". Gostei .. Assim que meu computador tiver com o drive de som, vou procurar escutar xD

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